terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Carta da Alice ao Papai Noel

Querido Papai Noel.

Em primeiro lugar: eu me comportei!!! (embora, se o senhor for tentar confirmar isso com a mamãe, ela vá reclamar, reclamar, reclamar e lembrar do uniforme de judô que mofou porque eu não tirei da mochila pra lavar. Mas pode perguntar pro papai, que ele vai dizer que eu me comportei, sim. O papai é sempre bonzinho).

Eu não vou falar que comi legumes, fiz todo o dever de casa, respeitei os mais velhos e não assisti à TV até tarde porque isso é tudo mentira, e eu sei que o senhor não gosta de mentiras. Pra falar a verdade, eu odeio legumes. Eu jogo todos para o Skywalker, o meu cachorro, sabe? E ele é o único cachorro que eu conheço que gosta de legumes. E o papai diz que eu sou a única criança no mundo que daria o nome Skywalker a um cachorro. Mas é que eu vi sobre ele num dos textos da mamãe, achei o nome bonito. Eu já estou divagando. Na verdade eu não sei o que significa divagando, deve ter a ver com gente lerda, não é? Divagar, devagar, são palavras parecidas. Toda vez que eu começo a fugir do assunto, a mamãe diz que eu estou divagando. O papai grita de lá do quarto que mamãe faz isso o tempo inteiro e ela pára de pegar no meu pé.

Bom, voltando ao que eu fiz (ou não fiz) durante esse ano: o dever de casa, bom, esse eu posso explicar. Não é que eu não goste de estudar. Eu gosto, sim! O problema é que o dever de casa que a professora passa é chato. Eu gosto de escrever. Eu já escrevi um monte de redações e sempre levo pra escola. Mas a professora fala que eu escrevo igual adulto e que tudo tem que ter o seu tempo, que eu tenho de me preocupar com o dever de casa e não com os textos que eu levo. Então, eu fico com raiva e deixo o dever pra lá! Mas no ano que vem eu vou fazer tudinho, eu prometo! E eu até já passei de ano, sem dever mesmo.

Respeitar os mais velhos... bom, é assim: eu até que respeito. O problema é que tem “mais velho” que parece mais novo que eu, e fica complicado de respeitar. Mas eu tento, o máximo possível. Ah, mas os meus pais eu respeito! Até porque, se eu não respeitar, o bicho pega! E quanto à TV... é que tem tanto programa bom passando de noite que eu prefiro assistir à TV depois da novela. A mamãe reclama (aliás, a mamãe reclama tanto! Nunca vi alguém assim), mas no final ela acaba assistindo comigo, então, tenho um desconto nessa, não é, Papai Noel! Tenho o consentimento familiar!

Cá estou eu “divagando” de novo. Acho que o senhor não quer saber da minha vida, porque provavelmente já sabe isso tudo, não é? Eu deveria pedir o presente. É que na verdade, Papai Noel, eu não sei o que pedir. Eu já sei que o papai vai me dar uma bicicleta nova e dizer que foi o senhor que mandou, porque ele faz isso todo ano. E a mamãe, ah, com certeza ela vai surgir com um cubo mágico, um bonequinho de playmobil ou qualquer outra velharia da época dela e dizer que é “um clássico!! Eu sempre quis ter um desse, na sua idade!!” e eu vou agradecer e colocar no canto do quarto, como sempre.

Eu estava pensando em pedir a paz mundial, mas a Sofia, minha amiga da escola, disse que todo mundo pede a paz mundial. Então, como já tem esse pedido, eu acho que o senhor pode dar só a paz pros vizinhos do 305, porque eu não agüento mais as brigas deles. E parece que eles só brigam quando eu sento pra estudar oboé. A Sofia disse que eu sou doida de estudar oboé, que é instrumento de maluco. Eu ando pensando que realmente eu não devo ser normal. De qualquer forma, já seria um presente, sabe? Silêncio enquanto eu estudo, seria ótimo!

Papai Noel, eu acho que eu fiz uma carta muito grande. Falei, falei, falei e não disse nada! Então, vamos combinar uma coisa? Faz o seguinte, deixa a minha vida assim, do jeitinho que ela está, que já está muito bom! Me dá só mais felicidade que eu já fico satisfeita. Não é que eu não seja feliz. Eu sou, mas eu quero ser mais! E felicidade a mais não faz mal a ninguém. Cuida bem dos meus avós, que eu gosto tanto deles! Ah, e olha pelo papai, pela mamãe e pelos meus tios (para eles deixarem de ser tão doidos). Manda um beijo pra vovó do céu, que de tanto a mamãe falar dela pra mim eu sinto que sempre conheci! Ah, atende o pedido da Sofia, também. Eu sei que ela vai pedir pra casar com o Orlando Bloom (um ator aí que a mãe dela era apaixonada) quando crescer. Mas esse o senhor não atende não, dá só o brinquedo que ela pedir. E então é isso! Obrigada e até o ano que vem!


Beijos,


Alice.





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Tá, tudo bem, dessa vez eu viajei. Essa seria a Alice, daqui a alguns anos (alguns anos MESMO), escrevendo pro Papai Noel. Mas é desse jeito, desse jeitinho aí, que eu imagino que a minha Alice vai ser quando vier ao mundo. Se ela for só a metade do que eu espero, já estará bom.

A idéia dessa carta surgiu por causa de outra: a carta do Victor, um garotinho de 6 anos que eu nem conheço, mas que escreveu para o Papai Noel e deixou a cartinha nos correios, para, quem sabe, ganhar um presente. Eu decidi ser a “Mamãe Noel” dele. Quer fazer o mesmo e ter um Natal diferente? Vá aos correios de sua cidade e adote uma cartinha. Tem muita criança por aí esperando por esse presente. E se eu não voltar por aqui antes do Natal (o que provavelmente acontecerá), desejo a você, leitor guerreiro que ainda agüenta o que eu escrevo, um feliz Natal e muitas felicidades no próximo ano! Que virá com mais textos, mais devaneios e mais “sonhos de ser legal”!