quarta-feira, 2 de julho de 2008

Um zero e as letras

Estou passando por um momento de "crise literária". Para falar em bom português, não sei o que escrever. Você já deve ter percebido isso, se observou a data do meu último texto. Pois bem, como eu não sei falar de outra coisa a não ser de mim mesma (narcisista? imagina!), vou contar mais uma historinha da minha vida, hahaha. Essa é legal, você vai até gostar.

Para quem não sabe (e pra quem sabe também), minha formação acadêmica é em Letras/Inglês. É justamente aí que mora a grande ironia da minha história de hoje. Eu, hoje formada, só escolhi a faculdade num momento de pura revolta e desejo de competição. Meio estranho, não? Pois é, mas eu sou extremamente competitiva e odeio perder. Sempre fui assim desde pequena. Lembro-me das brigas homéricas que tive com a Blanca, minha melhor amiga da época de natação, porque as duas queriam chegar em primeiro e quando uma perdia, passava a ser a chacota da outra por uma semana. Nós brigávamos, mas logo a paz se restabelecia. Até a próxima competição, claro.

Está bem, mas o que isso tem a ver com a minha graduação? Tudo. Eu só escolhi as Letras porque eu perdi. Para mim mesma. No vestibular. Se eu não tivesse me dado mal naquele vestibular, lá atrás (caramba, isso já faz oito anos! estou velha mesmo), seria hoje uma advogada (ai Jesus, que perigo) formada pela tradicional UFOP, de Ouro Preto. Acontece que no meio do caminho havia uma pedra, ou melhor, uma prova de inglês. E eu tirei zero. Isso mesmo, eu fiz o favor de zerar a prova de inglês e jogar pelo ralo a sensacional redação que eu havia feito na prova. Nem eu mesma acreditei que tinha sido escrita por mim. Eu parecia possuída, é sério! Mas de nada adiantou, uma vez que é condição fundamental para a aprovação ter uma pontuação mínima em todas as matérias. Eu consegui o mais difícil: De dez possíveis, acertei seis questões de física. E eu a física nunca fomos lá grandes amigas.

Na hora da prova de inglês, eu fui uma verdadeira displicente. Achei o texto fácil. "Isso aqui? Moleza! Faço em dez minutos". Claro, o texto não estava tão fácil assim. Era cheio de cognatos e pegadinhas. E foi nelas que eu caí. Dez questões. Nenhum acerto, aliás em muitas delas eu passei longe. Não fosse a minha displicência, teria dado mais atenção àquela prova. Lição anotada e aprendida, logo que vi o resultado. Pela minha pontuação, teria sido aprovada, mas não consegui a vaga por causa daquele zero infeliz. Nem preciso dizer o quanto fiquei decepcionada. E o quanto me irritei ao voltar à minha realidade de estudante de pré-vestibular derrotada. Me senti como um atacante que perde o pênalti na final do campeonato.

Ah, mas aquele zero idiota não ia ficar rindo da minha cara. Não, mesmo! A minha primeira providência foi retornar ao cursinho de inglês. Afinal de contas, eu ainda desejava ser advogada (ou jornalista, mas disso eu acabei desistindo, outra história traumatizante) e para isso teria de ir bem em todas as matérias. Ou seja, nada de inglês vagabundo. Dessa vez eu ia ganhar aquele jogo. Ah, claro. Não tive como bancar dois cursos ao mesmo tempo. Decidi abdicar temporariamente do pré-vest e da faculdade para me dedicar ao inglês. Até ter capacidade para conseguir uma nota de respeito, o que, do alto do meu perfeccionismo exagerado, deveria ser acertar todas as questões da prova.

Dois anos depois, lá estava eu, ainda obstinada em reverter minha derrota vexatória. Nesse período, tive sonhos estranhos, em que zeros gigantes me perseguiam pelas ruas. Ou então eu era engolida por um zero quando tentava novamente fazer a prova do vestibular. Aquilo já estava me deixando irritada. Já estava se transformando numa questão de honra. Eu nem me importava em passar no vestibular, queria mesmo era ir bem na prova de inglês. Foi nesse momento que as Letras entraram na minha vida. A professora de inglês sugeriu o curso, e não é que a idéia me pareceu interessante? Afinal, se eu chegasse ao fim com boas notas, conseguiria derrotar, espezinhar, amassar, estraçalhar aquele zero humilhante. E minha vingança seria completa.

Bom, o resultado foi que eu passei no vestibular (acertando todas as questões de inglês), ralei bastante, tive uma relação de amor e ódio com o curso, mas o saldo final foi positivo. Por fim, não tenho mais pesadelos com zeros me perseguindo. Posso dormir tranqüila, pelo menos até que o próximo desafio entre na minha reta...