quinta-feira, 14 de julho de 2011

Clarice... é pop?

Não é difícil reparar que, há muito, Clarice Lispector se tornou celebridade nas redes sociais. Volta e meia, olhando um ou outro perfil em facebooks, orkuts e twitters da vida, me deparo com alguém que utiliza trechos de ‘textos’ da escritora brasileira em seus perfis.

Digo ‘textos’, dessa forma, entre aspas, porque muitas vezes a pessoa nem se dá ao trabalho de saber se quem escreveu aquilo foi realmente Lispector. Além disso, metade das pessoas que se descrevem com frases de Clarice nunca abriu um livro dela pra ler. Nem sequer conhece a Macabéa, que tanto nos perseguiu nos pré-vestibulares da vida. Muito menos sabe a história da menina que roubou ‘As Reinações de Narizinho’ da amiguinha rica e o devorou como se fosse uma esfinge.

Onde estou querendo chegar com isso? Ora, não estou achando ruim ver Clarice sendo citada na internet. O que me desagrada é saber que a popularidade repentina não significa novos leitores e sim uma irritante modinha – “ah, eu quero pagar de cult, vou colocar um trechinho de Clarice Lispector ali e pronto”. E não acontece só com ela. Luiz Fernando Veríssimo, por exemplo, também é um dos campeões de textos encaminhados via e-mail, facebook, etc e tal. Ocorre, tal qual na situação de Lispector, que muitos textos não são dele – vide o conhecido Dúvidas Pascoais, com a qual somos brindados toda semana santa em nossas caixas de mensagens. Esse texto, embora levemente parecido com a escrita do gaúcho, não é dele, e sim de um professor mineiro chamado Antônio Rocha Neto, provavelmente fã do cronista.

A essa altura você já deve estar pensando: “mas você é chata, hein”. Ora, meu caro; eu não sou legal, sou professora de português e literatura – consequentemente, chata. E como chata que sou, ainda tenho a esperança de ver nossas feras da literatura nacional sendo verdadeiramente exaltadas, e não transformadas numa simples modinha. Sei que é difícil, especialmente nessa época em que tudo é instantâneo. Se lá atrás, na minha vida de vestibulanda, eu já ouvia as reclamações dos colegas por ter de ler Machado, Veríssimo (o Érico), Cecília Meirelles e muitos outros, imagine agora, em tempos de 140 caracteres? Não é fácil formar leitores. Que fique claro, aliás, que eu não sou dessas que só curte os nossos medalhões – eu leio de tudo: de O Mágico de Oz a Senhor dos Anéis, passando por Artemis Fowl, Percy Jackson e Harry Potter. Ler é tudo de bom, e é exatamente por isso que eu gostaria que os pseudo-fãs conhecessem a obra de Clarice – voltando à nossa personagem principal. Tem muita coisa boa ali: romances e contos dos bons, crônicas de primeira e entrevistas ainda melhores. Ah, pequeno detalhe: Clarice nunca foi poetisa – logo, esses poemas espalhados nos perfis não são dela. Nada que uma boa pesquisa não corrija.

Tenho certeza de que você, leitor, já encontrou algum da nossa popstar por aí. E se você, assim como eu, também se incomoda com tal situação, faça-me um favor: divulgue a verdadeira Clarice. Não só ela, mas também Adélia Prado, Drummond, Pedro Bandeira, Rubem Braga, toda essa turma das letras que está espalhada por aí - só esperando a chance de aparecer. Só assim poderemos afirmar: nem só de papa vive o pop.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

(Des)resoluções do novo ano

Olá, ano novo! Aí está você, todo faceiro e pimpão. Mas posso lhe dizer uma coisa? Eu não gosto de você. Nem um pouco.
Calma, já lhe explicarei o porquê: você é ímpar. E eu não gosto de nenhum ano ímpar. Boa parte das coisas ruins nesses meus 30 anos de existência aconteceram em anos ímpares e com você, certamente, não será diferente. Hein? Tá me dizendo que eu estou enganada? Nunca estarei. Jamais estarei.
Como é que é? Pague pra ver, você está me dizendo? Ora, ora, senhor 2011. Não queira me desafiar. Eu não gosto de perder. E não vai ser pra um aninho ímpar qualquer que eu sofrerei uma derrota.
Vai correr o risco, é? Vai mesmo? Então está bem. Aceito o desafio. O que eu preciso fazer? Uma lista? Rá! 2011, o senhor é um fanfarrão. Quer dizer que é só eu fazer uma lista do que eu quero que aconteça e o senhor irá cumpri-la, à risca? Ótimo! Vamos nessa, então!
Aí estão as minhas metas para você, 2011:

  • Não vou confiar em ninguém.
  • Vou parar de ser a boa samaritana. Quer ajuda? Procure um padre! Assistencialismo, aqui, não!
  • Ganância não faz mal a ninguém. Então, estará no meu vocabulário para esse ano.
  • Se eu precisar mentir ou enganar alguém para conseguir algum objetivo, o farei sem dó.
  • Não farei novos amigos. E os antigos... bem, o item 1 já diz tudo.
  • Vou seguir a cartilha do desapego, e dessa vez sem pular páginas.
  • Vou ser mais cautelosa e criteriosa nas minhas escolhas. Chega de fazer besteira.
  • Não quero mais ser legal. Vou até mudar o nome do blog.
  • Aliás, blog pra que? Coisa de fracassado. Vou deletá-lo.
  • Por fim, minha última resolução pra você, 2011: vou fechar os olhos e fingir que você não existiu. Que venha 2012.
Gostou das resoluções, caro ano novo? Vai conseguir cumpri-las? Pois bem, o desafio foi lançado. Dia 31/12 nós conversamos. Até lá!




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É claro que você, leitor atento (será que ainda tenho algum?) deve ter percebido que todas essas resoluções acima são uma baita mentira. É só um truque para enganar esse ano sabichão, que está dizendo que vai me conquistar. Não vai. Já prevejo que será um ano daqueles. Mas do que posso eu reclamar? Alguém me disse uma vez que a graça da vida é correr riscos, ser muito feliz e sofrer o diabo. Desse modo, lá vou eu para mais 365 dias de alegrias, desilusões, riso, choro e diversão. Bem-vindo, 2011!